segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Obrando no ar

PRECIOSIDADE – A dublê de repórter e animadora de flash ao vivo Katiúzia Rios protagonizou um episódio perfeitamente dispensável no programa Barra Pesada (TV Jangadeiro). Num flash para mostrar canos que jogam dejetos num leito de um riacho, a moça foi andando acompanhada do câmera, falando do absurdo e, não mais que de repente, fala: “aqui tem um moço, ele está defecando, pelo amor de Deus não vamos mostrar, por favor...”. Caso não tivesse feito alusão, nenhum telespectador saberia que no local havia um homem obrando (é o novo!). Também não era necessário pedir para que o cinegrafista não mostrasse o tal homem, como repórter, tem o controle da situação e a chefia da equipe. Enquanto o homem obrava no mato, ela obrava no ar. Um episódio defectível.

Enganação

O jornal Diário do Nordeste publicou, na coluna "Zumzumzum", que o show da banda norte-americana Kool & The Gang, previsto para acontecer nesse mês em Fortaleza, havia sido cancelado pelo fato de não haver tempo hábil para a vinda do grupo, que estaria no Hawaii. O problema é que a banda já estava no Brasil e feito shows. O que houve, na verdade, é que não foram vendidos ingressos na proporção que os promotores haviam planejado e, para evitar prejuízo, a apresentação acabou cancelada. Péssimo para os que gostam de boa música e para os fãs da banda, que emplacou diversos sucessos nos anos 70 e 80, notadamente na era "disco". Infelizmente por aqui se não for banda de forró, axé, pagode ou sertanejo é difícil haver um bom público. Será que o jornal achou mesmo que essa desculpa esfarrapada iria colar?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

EUA no Clássico-Rei

PÉROLA – Essa foi proferida por Fernando Graziani, durante a transmissão do jogo Fortaleza x Ceará, pela rádio O Povo/CBN, após ler mensagens enviadas por internautas que diziam estar fora do País: “os Estados Unidos em peso ouvindo a rádio O Povo”. De fato, país em plena efervescência de uma campanha presidencial, economia seriamente comprometida pela recessão econômica e a queda da bolsa de New York e o país em peso acompanhando o clássico cearense pela internet. Pois sim... E como se não fosse bastante, em seguida ainda mandou essa, sobre partida válida pelas eliminatórias da Copa do Mundo, que acontecia no mesmo instante: “A Colômbia está goleando o Peru por 2 x 0”. Nossa, se ele considera 2 x 0 goleada, imagine se o placar apontasse 4 x 0 ou mais...

PARA REFLETIR – "Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo." (Mahatma Ghandi)

O Novo presidente da Câmara de Vereadores e o Jogo de Luizianne

A época é fértil para "balões de ensaio" e especulações sobre a eleição da mesa diretora da próxima legislatura. O jornal O Povo já começou o périplo. Publicou matérias sobre a eleição da futura mesa diretora e soltou seus balões de ensaio. Evidentemente a eleição da mesa diretora passa pelo ocupante do Executivo. De uma maneira ou de outra. O interesse em ter um presidente “alinhado” com a Prefeitura é grande. Em 2004, desaguada no segundo turno contra grandes adversários de fora e de dentro do próprio partido, Luizianne venceu a disputa com Moroni Torgan após uma série de alianças que incluiu, inclusive, o então prefeito Juraci Magalhães.

Como presidente da Câmara acabou ungido o então articulador político de Juraci, Tin Gomes, eleito naquele ano. Tin conseguiu formar uma grande base de vereadores, que o credenciou para presidir o Legislativo. Durante todo o mandato da petista o presidente da Câmara se cacifou para postular o posto de vice em sua chapa, o que acabou por ocorrer. A previsão de ampliar a bancada foi frustrada. O chamado “blocão” conseguiu apenas sete cadeiras, uma a menos do que a coligação PT/PMDB. Por conta disso e por já ter aberto espaço para Tin como vice, a prefeita tem declarado que o próximo presidente da Câmara sairá de um dos dois partidos.

Na verdade a prefeita deseja ver no posto um colega de partido. Pelo PMDB, Paulo Gomes está descartado – por ser inexperiente e por ser sobrinho de Tin Gomes –, bem como Marcus Teixeira e Magaly Marques – ambos por não possuírem o perfil que a prefeita procura –. Carlos Mesquita, que tem sido objeto de babação de ovo de parte da imprensa também está descartado. O peemedebista passou a maior parte de seu mandato na oposição, tendo inclusive utilizado imagem do ex-prefeito Juraci em sua propaganda.

A imprensa não vai abordar, mas será travada – já está sendo – uma disputa pesada entre Luizianne e Tin para a eleição da mesa. A prefeita quer – mas sabe que será difícil – ver na presidência um vereador ligado diretamente a ela, no caso Acrísio Sena ou Ronivaldo Maia. Ambos também não possuem o perfil capaz de agregar votos do resto dos parlamentares. Mesmo com algumas ressalvas – o início do relacionamento político não foi muito pacífico – Guilherme Sampaio conseguiu aparar arestas com Luizianne e se transformou em seu líder. Poderá chegar na disputa como ungido.

Por outro lado Tin Gomes aposta ficha em três flancos. O primeiro, seu candidato preferido, Walter Cavalcante, mas sabe que, sendo um vereador com estreita ligação com ele, dificilmente conseguirá emplacá-lo. Como “plano B”, também tenta Elpídio Nogueira, mas a ligação dele com o grupo dos Ferreira Gomes – seu material de campanha, inclusive, trazia a foto dele junto com o deputado federal Ciro Gomes – é fator de resistência por parte da prefeita. Como “plano C”, o vice-prefeito eleito e presidente da Câmara tem apoiar o petista Salmito. O vereador reeleito não tem a simpatia da prefeita e é um nome oriundo do mesmo partido que ela.

Luizianne era vereadora quando assistiu à derrota do então prefeito Juraci Magalhães, que lançou e apoiou a candidatura de José Maria Couto, na eleição do primeiro dia de 1997, para a presidência. Naquela época, na queda de braço do prefeito com os deputados estaduais José Sarto e Carlomano Marques, Juraci cometeu erros que Luizianne, por seu perfil intempestivo, teimoso, arrogante, poderá repetir. O então prefeito, sem consultar os demais integrantes de sua base e sem avaliar a capacidade de agregação de Couto, o lançou. Foi o fator determinante para que Sarto e Carlomano conseguissem costurar um acordo que acabou por viabilizar a candidatura e a eleição do vereador Acilon Gonçalves, que por quatro anos lhe fez oposição e impôs derrotas no Legislativo.

Luizianne era um dos 41 vereadores daquela legislatura. Caso tenha entendido os motivos da derrota de Juraci, terá como não repeti-los nessa eleição. Em um lado está Tin Gomes tentando fazer seu sucessor, do outro Luizianne tentando eleger alguém de sua preferência. No meio o presidente estadual do PSB, Sérgio Novais, com a irmã, Eliane Novais – vereadora eleita – tentando fazê-la presidente, apelando para o fato da ala histórica do PSB ter aberto mão de indicar o candidato a vice-prefeito em troca da presidência da Câmara. A imprensa local opta por reproduzir discursos, maturar balões de ensaio do que efetivamente mergulhar no que de fato está movimentando a sucessão para a mesa diretora da Câmara.

A resposta das urnas

A cada eleição a composição do Legislativo Municipal tem sua qualidade diminuída. Seja como for, mesmo com os vícios e distorções, o sistema representativo garante a participação partidária de acordo com os votos recebidos. Mas a política brasileira não é, salvo uma ou outra exceção, formada por partidos políticos, mas por siglas que não têm qualquer tipo de atuação programática, ideológica, transformadas em meros instrumentos para que se concorra a cargos eletivos.

Dentre os que disputaram vaga na Câmara Municipal algumas “rodadas” surpreendentes. O ex-prefeito Antônio Cambraia (PMDB) ficou até longe de conseguir eleger-se. Embora não seja surpresa o pífio número de votos que o atual vice-prefeito, Carlos Veneranda (PDT) recebeu (foram apenas 1.031) acabou surpreendendo. Candidatos que eram apontados como “puxadores de voto” decepcionaram e influiu nos planos de outros postulantes. Das decepções a pior ficou com o “blocão” liderado pelo presidente da Câmara e vice-prefeito eleito, Tin Gomes. A primeira projeção que ele fez era de eleger nada menos de 22 (isso mesmo, 22, mais de 50% da composição do Legislativo) vereadores. A segunda projeção foi de 14 vereadores. Conseguiu apenas a metade disso. Tratava-se de um delírio extremo, pois para que o número de vereadores projetados no primeiro delírio fosse eleito, seriam necessários aproximadamente (ou até um pouco mais de) 650 mil votos. O desempenho dos candidatos do “blocão” (PSL/PRB/PHS/PMN), entretanto, foi alto: o vereador Marcílio Gomes (PSL), que não conseguiu se reeleger e ficará na primeira suplência contabilizou 8.205 votos, que teriam garantido sua reeleição em qualquer outra sigla.

Da turma que explora a condição de profissional e falso profissional como trampolim político, apenas o “comentarista” do programa 190 (TV Cidade), Vitor Valim, conseguiu eleger-se. Lógico que a superexposição no programa e o fato de ser genro do dono da emissora também contribuíram. Os demais ficaram bem longe do mandato. O falso profissional e explorador da miséria alheia Nilson Fagata (TV Diário) ficou na sexta suplência da sua coligação. Depois de Valim, foi o que mais votos conseguiu. Marilena Lima (TV Diário), da mesma coligação, teve pouco mais de 1.300 votos. Mas a situação mais vexatória foi do jornalista Afrânio Marques (TV Diário), ex-vereador: obteve apenas 658 votos. O falso profissional Ibernon Monteiro (Rádio Verdes Mares AM) também foi outro que pensou galgar a carreira política puxando o saco da torcida do Ceará Sporting, mas recebeu apenas 2.991 votos – há treinos do Vozão que dá mais gente do que isso –. O “advogado do cidadão”, que pensou utilizar “foguetes” sobre direitos do consumidor na TV União como trampolim político, Fernando Férrer, também recebeu uma lição das urnas: 2.690 votos.

Mesmo apregoando em seu site pessoal constar numa suposta lista dos dez candidatos a vereador mais comentados do País (embora não informe como se havia chegado à essa lista nem quem seria o responsável por ela) a dona de boate de swing (troca de casais) Kátia Heffner obteve 216 votos. Famosa por chamar os políticos e quem não votava nela de “cara de bunda”, acabou por ela própria ficar com essa cara. Desempenho ainda pior do que a “dançarina e cantora de funk” Adriely Fatal, que conseguiu 1.165 votos. Apresentada como sucessora da também “dançarina” e stripper Déborah Softy, o “fenômeno” da eleição passada não se repetiu. Aliás, apesar de ter divulgado que iria disputar mandato legislativo em Maracanaú, a vereadora de Fortaleza/stripper acabou por ficar de fora da eleição desse ano.

A pesquisa que circulou na Câmara Municipal, feita entrevistando eleitores aleatoriamente nas praças José de Alencar e do Ferreira acabou por mostrar-se surpreendente. Dos 41 vereadores eleitos apenas sete não figuravam na lista dos 100 mais citados - Pastor Carlos Dutra, Alípio Rodrigues, Marcelo Mendes, Adail Júnior, Dr. Ciro, Antônio Henrique, José Freire e Irmão Leo –. Os demais constavam na relação.

Falando em pesquisa, o colunista Fábio Campos (jornal O Povo) atacou duramente algumas pesquisas eleitorais na coluna Política do dia 11/10/08. Escreveu:

“AS PESQUISAS, OS ERROS E O CONFLITO DE INTERESSES Aumentaram as desconfianças em relação às pesquisas após as eleições de cinco de outubro. É fato a ocorrência de situações estranhas, inclusive aqui em Fortaleza. O Ibope, por exemplo, num curto espaço de tempo, divulgou uma pesquisa em que Luizianne aparecia com 50% das intenções de voto e, em cinco dias, caiu para 45% (cinco pontos percentuais a menos) enquanto Moroni Torgan (DEM) subia seis. Tudo isso sem que existisse um só fato que explicasse tamanha flutuação. No Rio de Janeiro, o mesmo Ibope comeu moscas e não percebeu a chegada de Gabeira. Só após o Datafolha detectar o crescimento do "verde" é que o Ibope se deu conta. O Ibope também apresentou problemas na boca de urna de Fortaleza, que é uma pesquisa com menor possibilidade de erro. O instituto entrevistou quatro mil pessoas e disse que a petista seria vencedora com 53% dos votos (notem que oito pontos a mais que a pesquisa da véspera da eleição). No entanto, Luizianne terminou a disputa com 50,16%. Como a margem de erro era de 2%, podemos afirmar concretamente que o Ibope errou. O problema de certos institutos talvez não seja apenas de metodologia, mas sim de credibilidade. E essa falta de credibilidade se exacerba quando o instituto vende pesquisas para os meios de comunicação e também para os partidos que têm interesse direto nos resultados. Assim dando à coisa o nome que ela tem, é o que poderíamos denominar de conflito de interesses”.

O problema é que o jornal no qual ele trabalha também divulga pesquisas, do Instituto Data Folha, que também vende pesquisas para os meios de comunicação e para partidos. Afinal, por qual motivo citar apenas o Ibope? É fato que esse instituto há tempos vem errando em suas pesquisas. Mas não está sozinho. Além disso, em seguida fez uma defesa da manutenção da divulgação das pesquisas – que efetivamente têm influência, de uma maneira ou de outra, no resultado de qualquer eleição –. “AUDITORIA É DIREITO DO CONSUMIDOR César Maia argumenta que ‘os erros graves na boca de urna’ mostraram que a questão técnica precisa entrar em debate, já que nem se poderia acusar de má fé, pois a eleição já havia acabado. ‘Talvez caiba ao Congresso nacional criar uma Comissão Especial de análise convidando especialistas seniores do Brasil e dos EUA e submetendo a metodologia aplicada por estes institutos a uma análise profunda. Eles não podem se negar a isso, pois se trata não de pesquisas internas, mas de pesquisas contratadas por importantíssimos meios de comunicação de alcance nacional, inclusive pela TV Globo. O consumidor tem todo o direito de ter uma informação adequada para tomar a sua decisão. Não é o que vem ocorrendo’. Tem sentido. É muito melhor fazer isso do que proibir a divulgação das pesquisas”. Pesquisas deveriam apenas servir como instrumento de avaliação interna das campanhas, nunca para serem divulgadas com a clara intenção de influenciar o eleitor.

Predileção Escancarada e a resposta das urnas

Começaram as projeções para o próximo nome do vereador presidente da câmara de Fortaleza. O dia da eleição, o pós-eleitoral, é um período fértil para o surgimento de personagens e a afloração de comportamentos nem sempre surpreendentes. Quando se define o quadro político que irá perdurar nos próximos anos, aproveitadores, bajuladores, sanguessugas aproveitam para traçar estratégias com o fito de galgar vantagens pessoais. Fase em que atos anéticos, inescrupulosos tornam-se ainda mais presentes.

Em Fortaleza, a mídia – que em sua maioria já se apresentava parcial à candidatura da prefeita Luizianne Lins – não mais fez questão em esconder seu posicionamento. Mesmo empresa de comunicação que não escancarou sua predileção por candidato acaba incorrendo nisso, como ocorreu com o Diário do Nordeste. Na segunda-feira após a eleição, o jornal trouxe uma capa para afagar o incomensurável ego da petista e lhe bajular. “Fortaleza reelege a guerreira”, foi a manchete, com uma enorme foto.

É fato que os meios de comunicação têm no Poder Público uma importante fonte de renda. Mas daí a atuar como Fagundes dos que, momentaneamente, estão com a chave do cofre na mão, é outra história. Foi descarada a forma como colunistas utilizaram seus espaços para colocarem-se a serviço da candidatura situacionista. Pior mesmo foi o espetáculo protagonizado pelo diretor de jornalismo da TV Diário, Roberto Moreira, que na noite do domingo, transformou o programa que deveria versar sobre a cobertura das eleições municipais em todo o Estado num festival de bajulação de prefeitos reeleitos e eleitos.

A preocupação com a bajulação fez com que poucos fizessem uma análise do que os números demonstraram. A vitória da prefeita Luizianne Lins, apesar de festejada como triunfante por ter ocorrido já no primeiro turno, deu-se por uma margem de apenas 3.836 votos. Ou seja: somando-se os votos atribuídos a todos seus opositores, essa pequena diferença garantiu sua vitória no primeiro turno. É pouco mais do que a votação do último eleito para a Câmara Municipal, Valdeck (PTB), que obteve 3.419 votos.

Foi um recado claro: quase e metade da população não aprovou a gestão da prefeita e queria outra pessoa no Executivo. Pelo menos no primeiro instante. Além do mais, o vereador mais votado é também um dos que lhe opõe e se oporá no Legislativo: João Alfredo, do PSol. Não obstante o tom irônico, sarcástico, prepotente, arrogante que a prefeita utilizou na entrevista que concedeu ao Jornal do Meio Dia (TV Verdes Mares) – obviamente com perguntas para lá de “camaradas”. Luzianne desdenhou de seus opositores, afirmando que a maioria dos que lhe fazem oposição na atual legislatura não conseguiu renovar o mandato.

Os números finais da eleição proporcional apontam para outra leitura. Afinal, Alri Nogueira e alguns outros poucos a compor a oposição que “rodaram” não se constituem numa oposição pensante. Trata-se de uma oposição montada de acordo com o interesse pessoal do parlamentar. Os eleitores que os conduziram ao Legislativo em 2004 não estavam interessados se eles iriam ou não fazer oposição à gestão municipal. O parlamentar eleito do PSol, entretanto, chega à Câmara pelo desejo dos que sufragaram seu nome de vê-lo na oposição no segundo mandato de Luizianne. Tem a experiência de já ter passado pela Assembléia, Câmara Federal e conhecer bem a prefeita e sua entourage, posto que é seu ex-colega de partido e praticamente o único nome de expressão do partido que a apoiou em 2004.

Na entrevista ao Jornal do Meio Dia, Luizianne utilizou a batida expressão “choque de gestão”, como meta de seu próximo mandato. Ora, a prefeita teve três anos e dez meses para fazê-lo. Não o fez. Agora que terá de acomodar nada menos do que doze partidos em seu governo – e mais alguns que fisiologicamente acabarão por se juntar – será muito mais difícil. O “perfil técnico” que traçou para seu futuro secretariado cairá por terra quando tiver que satisfazer os interesses de quem abarrotou seu palanque.

O primeiro mandato do presidente Lula e a campanha de 2006 expuseram, definitivamente, que o PT não era mais nem sombra do partido que se originou das lutas dos trabalhadores no início dos anos 80. Na mesma linha, o petista costurou uma “ampla” aliança que fez alçar à condição de seu vice um empresário oriundo do PL (hoje PR, depois do escândalo do mensalão e da fusão com o PRONA) e à presidência do Banco Central um banqueiro eleito deputado federal pelo... PSDB. Os petistas colocaram em prática um dos mais ferozes planos de clientelismo que já se registrou na história desse País, através da compra de voto disfarçada de programa social. Além disso, a cooptação dos que ainda relutavam em aderir ao governo, mediante a distribuição de sinecuras.

A fórmula – tão criticada pela prefeita quando da campanha de 2004 – foi assimilada e reproduzida em Fortaleza. Através da distribuição de cargos e benesses, Luizianne conseguiu compor uma base de apoio tão “eclética” que contou até com o ex-articulador político do ex-prefeito Juraci Magalhães – que abocanhou a presidência da Câmara por dois mandatos e agora é o vice-prefeito eleito – e um de seus vice-líderes no Legislativo, Didi Mangueira, que não conseguiu reeleição. Para a campanha da reeleição, trouxe ainda o PMDB – aquele mesmo que a prefeita apregoava como ser o que de mais atrasado existia na política – e parte da família Ferreira Gomes – os mesmos que também recebiam pesadas críticas da petista, quando se abrigavam no ninho tucano –. E para arrematar, uma gama de “projetos sociais”, dentre eles o “vale-casa”, e se isso não é compra de votos, então nada mais pode ser considerado assim.

Sobre Jornais e bicheiros

(Esta postagem dá continuidade ao assunto da postagem abaixo)
Na imprensa escrita, foi bastante curiosa a forma como os dois principais jornais se portaram diante do fechamento da empresa Paratodos. O Diário do Nordeste publicou apenas uma matéria, sendo o mais superficial possível e omitindo a lista dos sócios da banca presos pela PF. Somente dois dias depois, o jornal publicou a lista dos presos, que incluía, além de João Mendonça e Francisco Mororó, outro conhecido nome do “high society” e das páginas policiais: Fábio Leite, notório proprietário de cassinos clandestinos (nem tão clandestinos assim) e que fazia questão de expor sua ação de não acatar decisões judiciais. Também vale lembrar que Mororó chegou a ser dono da extinta TV Com, até que vendeu a emissora para o Sistema Verdes Mares de Comunicação, sendo hoje a TV Diário.

Aliás, sobre a forma como a imprensa mantém-se (ou mantinha-se) calada frente à contravenção, escreveu o ombudsman do jornal O Povo, em sua coluna do dia 12/10/08:

“MAIS ANTIGO Foi dito na matéria ‘Vou mudar a cúpula da Polícia Civil (entrevista com o secretário Francisco Crisóstomo) que ‘era notório que o Jogo do Bicho funcionava sem parar havia pelo menos três décadas em Fortaleza, mas nunca havia sido importunado’. Ocorre que apenas o ‘banco’ Para Todos funcionava sem parar havia pelo menos três décadas. O Jogo do Bicho é muito mais antigo. Quando repórter de Cidade, tentei fazer, no final da década de 70 ou início dos anos 80, uma matéria sobre o jogo do bicho, ouvindo o Sr. Francisco Mororó. Na época, nada saía na imprensa sobre jogo do bicho. Nem contra nem a favor. Os bicheiros preferiam não ser lembrados no noticiário da imprensa. Mororó ainda me fez um desafio: ‘Vamos apostar como essa matéria não sai’. Não saiu mesmo. Tentativas frustradas de fazer reportagens com o Jogo do Bicho ocorreram também com outros repórteres deste jornal”.

Sobre o texto de Paulo Verlaine, apenas o seguinte: na época nada saía na imprensa sobre o jogo do bicho e agora só saiu porque o fato não tinha como ser ignorado. O jornal O Povo fez uma ampla cobertura sobre o fato. Mas um fato chamou a atenção: o insistente enfoque sobre o “lado social” do Paratodos, através do depoimento de apontadores e apostadores. Todas as matérias traziam depoimentos sobre como a contravenção lhes garantia o sustento, direitos sociais, “seriedade” no pagamento dos prêmios, etc. Nenhuma linha sobre o universo obscuro que gravita em torno do jogo do bicho. Coincidentemente todos os textos abordavam o “trabalho social” que o Paratodos fazia.

O tráfico de drogas e a exploração sexual também “geram” emprego, renda e produzem um “trabalho social”. Nem por isso não devem ser coibidos. A argumentação de que a contravenção é aceita socialmente não tem qualquer valor, uma vez que a lei a proíbe. Assim como também proíbe o tráfico de substâncias entorpecentes, o lenocínio, o rufianismo. Em ações da Polícia na repressão a esses crimes, não se tem notícia desse tipo de enfoque por parte do jornal. Por qual motivo a simpatia à contravenção?

Além disso, publicou o seguinte: “João Carlos Mendonça - Presidente do Conselho Administrativo da Organização. As investigações apresentaram divergências entre os rendimentos declarados e a movimentação financeira. A PF detectou ainda que ele manteria bancas de jogos nas cidades de Russas, Aracati, Quixeramobim, Quixadá, Sobral, Icó, Iguatu, Crateús, Cedro e Trairi. Controla a Loteria Estadual do Ceará, Loteria dos Sonhos, Quadra da Sorte e Totolec. Os últimos empreendimentos, todavia, estão legalizados”. Os último empreendimentos não estão legalizados, amparam-se na legislação não recepcionada pela Constituição vigente. Tal qual fazia Alfonsus (Al) Capone, nenhum dos “sócios” declarava a Paratodos como fonte de renda. Na verdade nem tinham como fazê-lo. Então para onde ia o dinheiro oriundo da banca de jogo e de onde vinha o patrimônio e a renda dos sócios, que esbanjavam dinheiro abertamente? Somente no dia da execução da operação “Arca de Noé” a PF apreendeu R$ 5 milhões no cofre da Paratodos.

Nesse episódio, a resposta do secretário de segurança pública Roberto Monteiro. Dentre o fraco secretariado do governador Cid Gomes, Monteiro é o único que mantém uma postura merecedora de aplauso. O secretário não busca capitalizar mídia com o Ronda do Quarteirão – até porque o projeto foi concebido e utilizado na campanha por Cid, não por Monteiro – e tem uma postura de buscar uma assepsia no aparelho policial. Logo de cara proibiu que delegados e demais policiais obrigassem presos a concederem entrevista à imprensa, o que desagradou e não é cumprido por seus comandados. Depois teve um comportamento exemplar na crise que se abateu na Polícia Militar, através de mais um grupo de extermínio descoberto e preso.

Em recente crise com delegados da Polícia Civil, quando um grupo chegou a encaminhar documento pedindo o afastamento do delegado da PF Loredano, chefe da Coordenação de Inteligência (Coin), não aceitou a provocação da “imprensa policial” para que se debatesse e confrontasse publicamente o grupo de delegados. Teve uma postura serena e, como resposta, a ação que culminou com a prisão do segundo homem da hierarquia da Polícia Civil. Declarou que, apesar da repressão à contravenção ser da alçada estadual, não confiava nos delegados da Polícia Civil para executá-la. Loredano teve para si atraída a ira do grupo de delegados exatamente porque investigava alguns sob suspeição de envolvimento em crimes.