segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Predileção Escancarada e a resposta das urnas

Começaram as projeções para o próximo nome do vereador presidente da câmara de Fortaleza. O dia da eleição, o pós-eleitoral, é um período fértil para o surgimento de personagens e a afloração de comportamentos nem sempre surpreendentes. Quando se define o quadro político que irá perdurar nos próximos anos, aproveitadores, bajuladores, sanguessugas aproveitam para traçar estratégias com o fito de galgar vantagens pessoais. Fase em que atos anéticos, inescrupulosos tornam-se ainda mais presentes.

Em Fortaleza, a mídia – que em sua maioria já se apresentava parcial à candidatura da prefeita Luizianne Lins – não mais fez questão em esconder seu posicionamento. Mesmo empresa de comunicação que não escancarou sua predileção por candidato acaba incorrendo nisso, como ocorreu com o Diário do Nordeste. Na segunda-feira após a eleição, o jornal trouxe uma capa para afagar o incomensurável ego da petista e lhe bajular. “Fortaleza reelege a guerreira”, foi a manchete, com uma enorme foto.

É fato que os meios de comunicação têm no Poder Público uma importante fonte de renda. Mas daí a atuar como Fagundes dos que, momentaneamente, estão com a chave do cofre na mão, é outra história. Foi descarada a forma como colunistas utilizaram seus espaços para colocarem-se a serviço da candidatura situacionista. Pior mesmo foi o espetáculo protagonizado pelo diretor de jornalismo da TV Diário, Roberto Moreira, que na noite do domingo, transformou o programa que deveria versar sobre a cobertura das eleições municipais em todo o Estado num festival de bajulação de prefeitos reeleitos e eleitos.

A preocupação com a bajulação fez com que poucos fizessem uma análise do que os números demonstraram. A vitória da prefeita Luizianne Lins, apesar de festejada como triunfante por ter ocorrido já no primeiro turno, deu-se por uma margem de apenas 3.836 votos. Ou seja: somando-se os votos atribuídos a todos seus opositores, essa pequena diferença garantiu sua vitória no primeiro turno. É pouco mais do que a votação do último eleito para a Câmara Municipal, Valdeck (PTB), que obteve 3.419 votos.

Foi um recado claro: quase e metade da população não aprovou a gestão da prefeita e queria outra pessoa no Executivo. Pelo menos no primeiro instante. Além do mais, o vereador mais votado é também um dos que lhe opõe e se oporá no Legislativo: João Alfredo, do PSol. Não obstante o tom irônico, sarcástico, prepotente, arrogante que a prefeita utilizou na entrevista que concedeu ao Jornal do Meio Dia (TV Verdes Mares) – obviamente com perguntas para lá de “camaradas”. Luzianne desdenhou de seus opositores, afirmando que a maioria dos que lhe fazem oposição na atual legislatura não conseguiu renovar o mandato.

Os números finais da eleição proporcional apontam para outra leitura. Afinal, Alri Nogueira e alguns outros poucos a compor a oposição que “rodaram” não se constituem numa oposição pensante. Trata-se de uma oposição montada de acordo com o interesse pessoal do parlamentar. Os eleitores que os conduziram ao Legislativo em 2004 não estavam interessados se eles iriam ou não fazer oposição à gestão municipal. O parlamentar eleito do PSol, entretanto, chega à Câmara pelo desejo dos que sufragaram seu nome de vê-lo na oposição no segundo mandato de Luizianne. Tem a experiência de já ter passado pela Assembléia, Câmara Federal e conhecer bem a prefeita e sua entourage, posto que é seu ex-colega de partido e praticamente o único nome de expressão do partido que a apoiou em 2004.

Na entrevista ao Jornal do Meio Dia, Luizianne utilizou a batida expressão “choque de gestão”, como meta de seu próximo mandato. Ora, a prefeita teve três anos e dez meses para fazê-lo. Não o fez. Agora que terá de acomodar nada menos do que doze partidos em seu governo – e mais alguns que fisiologicamente acabarão por se juntar – será muito mais difícil. O “perfil técnico” que traçou para seu futuro secretariado cairá por terra quando tiver que satisfazer os interesses de quem abarrotou seu palanque.

O primeiro mandato do presidente Lula e a campanha de 2006 expuseram, definitivamente, que o PT não era mais nem sombra do partido que se originou das lutas dos trabalhadores no início dos anos 80. Na mesma linha, o petista costurou uma “ampla” aliança que fez alçar à condição de seu vice um empresário oriundo do PL (hoje PR, depois do escândalo do mensalão e da fusão com o PRONA) e à presidência do Banco Central um banqueiro eleito deputado federal pelo... PSDB. Os petistas colocaram em prática um dos mais ferozes planos de clientelismo que já se registrou na história desse País, através da compra de voto disfarçada de programa social. Além disso, a cooptação dos que ainda relutavam em aderir ao governo, mediante a distribuição de sinecuras.

A fórmula – tão criticada pela prefeita quando da campanha de 2004 – foi assimilada e reproduzida em Fortaleza. Através da distribuição de cargos e benesses, Luizianne conseguiu compor uma base de apoio tão “eclética” que contou até com o ex-articulador político do ex-prefeito Juraci Magalhães – que abocanhou a presidência da Câmara por dois mandatos e agora é o vice-prefeito eleito – e um de seus vice-líderes no Legislativo, Didi Mangueira, que não conseguiu reeleição. Para a campanha da reeleição, trouxe ainda o PMDB – aquele mesmo que a prefeita apregoava como ser o que de mais atrasado existia na política – e parte da família Ferreira Gomes – os mesmos que também recebiam pesadas críticas da petista, quando se abrigavam no ninho tucano –. E para arrematar, uma gama de “projetos sociais”, dentre eles o “vale-casa”, e se isso não é compra de votos, então nada mais pode ser considerado assim.

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