segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A resposta das urnas

A cada eleição a composição do Legislativo Municipal tem sua qualidade diminuída. Seja como for, mesmo com os vícios e distorções, o sistema representativo garante a participação partidária de acordo com os votos recebidos. Mas a política brasileira não é, salvo uma ou outra exceção, formada por partidos políticos, mas por siglas que não têm qualquer tipo de atuação programática, ideológica, transformadas em meros instrumentos para que se concorra a cargos eletivos.

Dentre os que disputaram vaga na Câmara Municipal algumas “rodadas” surpreendentes. O ex-prefeito Antônio Cambraia (PMDB) ficou até longe de conseguir eleger-se. Embora não seja surpresa o pífio número de votos que o atual vice-prefeito, Carlos Veneranda (PDT) recebeu (foram apenas 1.031) acabou surpreendendo. Candidatos que eram apontados como “puxadores de voto” decepcionaram e influiu nos planos de outros postulantes. Das decepções a pior ficou com o “blocão” liderado pelo presidente da Câmara e vice-prefeito eleito, Tin Gomes. A primeira projeção que ele fez era de eleger nada menos de 22 (isso mesmo, 22, mais de 50% da composição do Legislativo) vereadores. A segunda projeção foi de 14 vereadores. Conseguiu apenas a metade disso. Tratava-se de um delírio extremo, pois para que o número de vereadores projetados no primeiro delírio fosse eleito, seriam necessários aproximadamente (ou até um pouco mais de) 650 mil votos. O desempenho dos candidatos do “blocão” (PSL/PRB/PHS/PMN), entretanto, foi alto: o vereador Marcílio Gomes (PSL), que não conseguiu se reeleger e ficará na primeira suplência contabilizou 8.205 votos, que teriam garantido sua reeleição em qualquer outra sigla.

Da turma que explora a condição de profissional e falso profissional como trampolim político, apenas o “comentarista” do programa 190 (TV Cidade), Vitor Valim, conseguiu eleger-se. Lógico que a superexposição no programa e o fato de ser genro do dono da emissora também contribuíram. Os demais ficaram bem longe do mandato. O falso profissional e explorador da miséria alheia Nilson Fagata (TV Diário) ficou na sexta suplência da sua coligação. Depois de Valim, foi o que mais votos conseguiu. Marilena Lima (TV Diário), da mesma coligação, teve pouco mais de 1.300 votos. Mas a situação mais vexatória foi do jornalista Afrânio Marques (TV Diário), ex-vereador: obteve apenas 658 votos. O falso profissional Ibernon Monteiro (Rádio Verdes Mares AM) também foi outro que pensou galgar a carreira política puxando o saco da torcida do Ceará Sporting, mas recebeu apenas 2.991 votos – há treinos do Vozão que dá mais gente do que isso –. O “advogado do cidadão”, que pensou utilizar “foguetes” sobre direitos do consumidor na TV União como trampolim político, Fernando Férrer, também recebeu uma lição das urnas: 2.690 votos.

Mesmo apregoando em seu site pessoal constar numa suposta lista dos dez candidatos a vereador mais comentados do País (embora não informe como se havia chegado à essa lista nem quem seria o responsável por ela) a dona de boate de swing (troca de casais) Kátia Heffner obteve 216 votos. Famosa por chamar os políticos e quem não votava nela de “cara de bunda”, acabou por ela própria ficar com essa cara. Desempenho ainda pior do que a “dançarina e cantora de funk” Adriely Fatal, que conseguiu 1.165 votos. Apresentada como sucessora da também “dançarina” e stripper Déborah Softy, o “fenômeno” da eleição passada não se repetiu. Aliás, apesar de ter divulgado que iria disputar mandato legislativo em Maracanaú, a vereadora de Fortaleza/stripper acabou por ficar de fora da eleição desse ano.

A pesquisa que circulou na Câmara Municipal, feita entrevistando eleitores aleatoriamente nas praças José de Alencar e do Ferreira acabou por mostrar-se surpreendente. Dos 41 vereadores eleitos apenas sete não figuravam na lista dos 100 mais citados - Pastor Carlos Dutra, Alípio Rodrigues, Marcelo Mendes, Adail Júnior, Dr. Ciro, Antônio Henrique, José Freire e Irmão Leo –. Os demais constavam na relação.

Falando em pesquisa, o colunista Fábio Campos (jornal O Povo) atacou duramente algumas pesquisas eleitorais na coluna Política do dia 11/10/08. Escreveu:

“AS PESQUISAS, OS ERROS E O CONFLITO DE INTERESSES Aumentaram as desconfianças em relação às pesquisas após as eleições de cinco de outubro. É fato a ocorrência de situações estranhas, inclusive aqui em Fortaleza. O Ibope, por exemplo, num curto espaço de tempo, divulgou uma pesquisa em que Luizianne aparecia com 50% das intenções de voto e, em cinco dias, caiu para 45% (cinco pontos percentuais a menos) enquanto Moroni Torgan (DEM) subia seis. Tudo isso sem que existisse um só fato que explicasse tamanha flutuação. No Rio de Janeiro, o mesmo Ibope comeu moscas e não percebeu a chegada de Gabeira. Só após o Datafolha detectar o crescimento do "verde" é que o Ibope se deu conta. O Ibope também apresentou problemas na boca de urna de Fortaleza, que é uma pesquisa com menor possibilidade de erro. O instituto entrevistou quatro mil pessoas e disse que a petista seria vencedora com 53% dos votos (notem que oito pontos a mais que a pesquisa da véspera da eleição). No entanto, Luizianne terminou a disputa com 50,16%. Como a margem de erro era de 2%, podemos afirmar concretamente que o Ibope errou. O problema de certos institutos talvez não seja apenas de metodologia, mas sim de credibilidade. E essa falta de credibilidade se exacerba quando o instituto vende pesquisas para os meios de comunicação e também para os partidos que têm interesse direto nos resultados. Assim dando à coisa o nome que ela tem, é o que poderíamos denominar de conflito de interesses”.

O problema é que o jornal no qual ele trabalha também divulga pesquisas, do Instituto Data Folha, que também vende pesquisas para os meios de comunicação e para partidos. Afinal, por qual motivo citar apenas o Ibope? É fato que esse instituto há tempos vem errando em suas pesquisas. Mas não está sozinho. Além disso, em seguida fez uma defesa da manutenção da divulgação das pesquisas – que efetivamente têm influência, de uma maneira ou de outra, no resultado de qualquer eleição –. “AUDITORIA É DIREITO DO CONSUMIDOR César Maia argumenta que ‘os erros graves na boca de urna’ mostraram que a questão técnica precisa entrar em debate, já que nem se poderia acusar de má fé, pois a eleição já havia acabado. ‘Talvez caiba ao Congresso nacional criar uma Comissão Especial de análise convidando especialistas seniores do Brasil e dos EUA e submetendo a metodologia aplicada por estes institutos a uma análise profunda. Eles não podem se negar a isso, pois se trata não de pesquisas internas, mas de pesquisas contratadas por importantíssimos meios de comunicação de alcance nacional, inclusive pela TV Globo. O consumidor tem todo o direito de ter uma informação adequada para tomar a sua decisão. Não é o que vem ocorrendo’. Tem sentido. É muito melhor fazer isso do que proibir a divulgação das pesquisas”. Pesquisas deveriam apenas servir como instrumento de avaliação interna das campanhas, nunca para serem divulgadas com a clara intenção de influenciar o eleitor.

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