segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Democracia e Debate na TV II

(Esta postagem continua o assunto da postagem anterior)
Como sempre os demais defensores de privilégios reforçaram o discurso da TV Verdes Mares. Necessário se faz, ainda, lembrar que concessão para a exploração de serviço de rádio e TV é do Poder Público, portanto com regras definidas e, principalmente, obrigações determinadas pela lei aos outorgados. Na coluna Política (jornal O Povo), edição do dia 01/10/08, seu titular escreveu:

“Regra anacrônica impede o bom debate A Rede Globo resolveu cancelar o debate em quatro capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Fortaleza. Motivo: esse tipo de confronto com mais de cinco candidatos é contraproducente. A emissora fez o que tinha de fazer. A legislação eleitoral é anacrônica. Trata os desiguais como iguais. Concede ao nanico que entra na disputa, muitas vezes por motivos nem sempre confessáveis, o mesmo peso e o mesmo valor que concede a um candidato de um grande partido ou uma grande aliança. Há candidatos a prefeito que não têm voto nem para se eleger vereador (se tivessem esses votos, creiam, eles procurariam garantir essa boquinha na vereança). A legislação é de um tempo em que o País precisava fortalecer sua democracia. Tempo em que precisava abrir o leque de chances para todos. Foi-se tal tempo. Hoje, o País é outro. Atitude correta foi a adotada pela TV O POVO, que optou pelo jornalismo de qualidade ao agendar entrevistas individuais com os concorrentes. Aí sim, o jornalismo pode confrontar o entrevistado. Aí sim, o candidato não se sentirá livre para dizer a bobagem que quiser porque será questionado por uma equipe de entrevistadores que se prepararam para esse momento. Não custa repetir: a legislação impõe às emissoras de TV e rádio uma regra que não é imposta nem à propaganda eleitoral gratuita. No palanque eletrônico, o nanico é nanico. Na cobertura jornalística, a justiça eleitoral obriga que o nanico seja tratado como gigante”.

Não existe anacronismo, mas uma lei que regula as eleições no País. Debate com mais de cinco candidatos poder ser, na avaliação do colunista, contraproducente não por conta da lei, mas pelo fato das empresas de comunicação reificarem o espaço de sua grade de programação e reduzir a discussão de temas de relevância a pouco mais de um minuto e meio, no máximo dois. A lei trata desiguais como iguais, como citou o colunista, exatamente para que todos tenham a mesma oportunidade.

Mais uma vez, preconceituosamente, trata candidatos que não estão “mais bem posicionados nas pesquisas” de nanicos. Demonstrando que desconhece a semântica das palavras, uma vez que nanismo é doença na qual o afetado apresenta problemas de crescimento e tem estatura anormal, aquém da média. Mas os anões são nanicos porque não têm perspectiva de crescimento, em virtude de sua doença. Adversamente dos candidatos, que podem ou não crescer na mesma eleição ou em outras futuras. Ainda que o colunista não deseje ou pregue o contrário.

O próprio titular do espaço cita que a TV O Povo optou por uma série de entrevistas com os candidatos. Mas não questionou o motivo pelo qual a emissora – que integra o Sistema O Povo de Comunicação – por qual motivo não realizou a série apenas com os “candidatos mais bem posicionados nas pesquisas”. Afinal, se era para manter a coerência, por qual motivo não estendeu a observação à atitude da TV O Povo?

Diferentemente do que escreveu, a democracia precisa, sim, ser fortalecida sempre. Hoje o País não é tão diferente do que era tempos atrás. Afinal, qual a diferença entre eleição indireta decidida em gabinetes e sob a pressão das armas ou a direta, onde o poderio econômico esmaga quem a ele se opõe? Infelizmente não disse quem seriam os candidatos “nanicos que entram na disputa, muitas vezes por motivos nem sempre confessáveis”.

Provavelmente o colunista deve defender o modelo norte-americano, onde a propaganda eleitoral nos meios de comunicação é paga – daí privilegiando os que se valerem dos detentores do capital e/ou sua capacidade de arregimentá-los em seu favor – e a cobertura se restringe à duas candidaturas: dos partidos Democrata e Republicano, que se revezam no poder desde a proclamação da independência daquele País.

Numa edição em um “ambiente democrático” do bipartidarismo que o Brasil conheceu durante a ditadura militar. A diferença é que lá não é necessária a imposição via golpe militar disso. Mesma forma, também, que o colunista defende o fim do horário eleitoral que insiste em chamar de gratuito. Coincidentemente o mesmo posicionamento dos empresários do setor, que desejam o horário eleitoral extinto e a propaganda eleitoral transformada em anúncios, inserções pagas. Às vezes até prega que o horário deva ser distribuído de maneira diferente, privilegiando os “gigantes”.

O colunista foi um dos que mais apregoou a “campanha limpa”, na qual os candidatos simplesmente ignorassem o histórico dos demais. Indo de encontro até mesmo com a propaganda institucional da Justiça Eleitoral, que conclama a analisar bem o currículo e o histórico dos candidatos, sejam eles ou não postulantes à reeleição. Fácil identificar o interesse nessas condutas: a conveniência pessoal que parte da imprensa possui em privilegiar as “candidaturas mais bem posicionadas nas pesquisas”.

Aliás, se esse critério fosse levado a feito em 2004, por exemplo, estariam excluídos do debate muitos então postulantes, inclusive a então candidata e hoje prefeita Luizianne Lins, que era mostrada pelas pesquisas como “nanica”. Vale lembrar que em 2004 num dos debates realizados pela TV Verdes Mares, com os candidatos então “melhores posicionados nas pesquisas”, Luizianne não participou, pois sequer figurava entre o grupo. Naquela ocasião estiveram os candidatos Cambraia (PSDB), Moroni (PFL), Inácio (PC do B) e Heitor Férrer (PDT).

Debates com mais de cinco candidatos não são contraproducentes, mas possibilitam, por exemplo, que o candidato mais bem posicionado nas pesquisas, seja alvo de um tiroteio maior de seus opositores, como ocorreu no debate da TV Jangadeiro, onde Luizianne Lins foi bombardeada pela maioria dos adversários. O poderio econômico nas campanhas políticas é notório. Principalmente das candidaturas dos “mais bem posicionados nas pesquisas”. Tem ficado claro na campanha de Luizianne, na de Moroni e Patrícia.

Nesses dois últimos, com menor poder de fogo. Entretanto, o colunista nunca questionou, por exemplo, que grupos estariam atrás do financiamento de campanhas e quais os interesses. Afinal, a empresa Marquise – que monopoliza o setor de coleta de lixo – e o Sindiônibus – que representa os interesses do empresariado do transporte público – não vêm, sucessivamente, patrocinando as candidaturas que acabam desaguando no Paço Municipal.

Hoje a empresa e o Sindicato foram e são os principais alimentadores financeiros da campanha da petista, ainda que isso não seja contabilizado oficialmente. Mas esse “detalhe” sequer foi citado, nem mesmo na série de matérias que o jornal fez sobre financiamento de campanha. Nem mesmo o fato de uma empresa que sequer tem sede no Município aparecer como uma das principais doadoras: a Grendene.

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